Quando cheguei para o credenciamento, já tinham rolado os shows da portuguesa
Dark Dath e da italiana
Admiron. Enquanto montava a tenda, ouvi o som da alemã
Mantar, uma banda de
Sludge Metal (uma mistura de elementos de
Doom e
Hardcore) que muito me agradou. Foi uma
vantagem da área de camping ser próxima da área do palco, além de não perder muito tempo para entrar no mesmo, podia ouvir o que rolava lá dentro. Com a "casa" arrumada, entramos para conferir os três principais shows daquela sexta-feira (entramos, porque fui acompanhada dos meus dois filhos, o que tornou o fim de semana ainda mais
especial).
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Suécia representada no palco e no camping |
O sol ainda estava alto quando os suecos do
Katatonia voltaram ao palco do
VOA, eles que tinham se apresentado na primeira edição do festival, em 2009. Sob muitos aplausos e os
olhos vidrados do meu filho mais novo - conseguimos ficar mesmo na grade bem perto do palco - eles começam com a bela
July, do
The Great Cold Distance, sétimo álbum de estúdio e um dos mais
importantes da carreira da banda. Além de
July, entraram no repertório, do mesmo álbum,
Deliberation,
Increase,
My Twin e
Sail's Song. A cada composição, a apresentação ficava mais e mais
envolvente e os mestres da
melancolia provavam porque são uma
importante página na história do
Doom Metal. Finalizando com a psicodélica
Forsaker,
Jonas Renkse (vocais),
Anders Nyström (guitarra),
Roger Öjersson (guitarra),
Niklas Sandin (baixo) e
Daniel Moilanen (bateria), deixaram o
gostinho de quero mais, que poderá brevemente ser saciado pelos fãs portugueses, uma vez que se apresentarão em
Lisboa no dia
14 de outubro - eu fiquei com muita vontade de ir a este concerto para ver o som deles em um ambiente fechado sem o sol, que foi a única coisa que não combinou...
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Os performáticos músicos do Katatonia em ação |
Um descanso no breve intervalo para o que viria a ser a terceira vez que eu me
emocionaria com a mesma banda diante dos meus olhos. Ver o
Anathema novamente já valeria todo o festival, e vê-los tão próximos foi uma sensação ainda mais
indescritível. A viagem começa com a música homônima da banda e o clima já fica um tanto
mágico, com os ingleses sendo calorosamente recebidos pelo público. A sequência arrasadora de
Untouchable, Part 1, fazendo a galera pular - inclusive minha filha de 12 anos que adora a banda - e
Untouchable, Part 2, que assim como das vezes que os vi em
2013 e
2014, transbordou em mim me fazendo
chorar compulsivamente! As melodias desses caras são algo assim
surreais... E a
emoção não pararia por aí... Eles emendam a bela
Thin Air com a mais bela ainda
A Simple Mistake, proporcionando uma
chapação floydiana geral... Depois
The Lost Song, Part I, a letra caindo como uma luva para aquela noite:
"Tonight I'm free, so free..." e
The Beginning and the End, outra que quase me arrancou lágrimas...
Danny o tempo todo agitando a galera, acenando com sua
simpatia habitual,
"mãe, ele acenou pra mim!", diz a minha filha emocionada no meio do show. Sim,
Danny é mesmo assim
carismático, uma das almas da banda, que mesmo na sua
genialidade não perde a humildade. Em
A Natural Disaster o público canta em uníssono com a banda e eu agradeço por aquele momento. Eles fecham com
Fragile Dreams, e o
"ooooo" entoado pela galera gera
arrepios e muita
energia para encerrar aquela hora
arrebatadora do festival.
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Anathema arrasou no palco do VOA |
A banda mais esperada da noite de sexta, mais uma sueca do cartaz, que marcava presença pela terceira vez depois das edições de 2011 e 2014, os
Opeth foram recebidos com muita
euforia pelo público. E foi de fato
um concerto e tanto. A mistura do
Death Metal, base da formação da banda, com elementos de folk, jazz, metal e rock progressivo, geram um
impacto e uma
musicalidade impressionantes ao vivo, aliados ao carisma de
Mikael Åkerfeldt, vocalista, guitarrista e principal compositor, que mantém-se à frente do grupo desde o início. Com uma carreira consolidada desde o lançamento de
Orchid, de 1995, até o
Pale Communion, de 2014, os suecos passearam por 8 dos 11 álbuns de estúdio da banda. Começam com
Cusp of Eternity, do último álbum, de cara agitando a galera e fazendo todos cantarem junto. Em seguida a união perfeita do progressivo com o peso de
The Devil's Orchard,
uma
sonoridade singular... A perambulação entre
potência e melodia continua durante todo o concerto, entremeada pelas conversas de
Mikael com a plateia. Uma
viagem musical e visual com interlúdios de violão e vocais limpos e guturais muito bem combinados.
To Rid the Disease me leva em momentos de uma quase
levitação, uma verdadeira
confortably numb! Em
Demon of the Fall, meu filho que tinha cochilado durante o show do
Anathema, acorda e comenta: "
essa eu gostei, é mais pesada!". E eles encerram justo com
Deliverance, uma das minhas prediletas, uma
montanha russa sonora de mais de treze minutos.
Que noite!
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Opeth foi o melhor show do festival |
No sábado, depois de muita sombra e água fresca - outro
ponto mais que positivo do festival foi que a área de camping era
totalmente arborizada, gerando excelentes sombras para a galera se recuperar da maratona musical - era hora de curtir mais dois grandes shows. Já tinham rolado a espanhola
Soldier, a portuguesa
Equaleft e uma surpresa positiva que ouvi do acampamento, a
Schammasch, da Suíça, além do
Balck Metal norueguês da
Abbath.
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Área de camping com muita sombra |
Mas foi para ver o
Paradise Lost que retornamos para o
VOA na noite do dia 6. Era a banda que as minhas crianças mais queriam ver (!!) e foi curioso perceber que a minha filha de 12 anos conhecia mais as músicas do que eu. Ela estava inteirada do último álbum dos ingleses, o
The Plague Within,
muito bom por sinal. Eles abrem com
No Hope Insight, sem dúvida uma das melhores composições da banda nos últimos tempos. A segunda do repertório é
The Enemy, do álbum
In Requiem, de 2007, levantando ainda mais o público, que
Nick Holmes parecia ter nas mãos, emendando logo no pianinho de
Erased, do
Symbol of Life (2002). Do clássico
Draconian Times, eles tocam
Hallowed Land e
The Last Time, que fecha a noite muito bem. Os ingleses apresentaram um
excelente repertório, navegando por várias fases da trajetória da banda, uma das precursoras do
Doom Metal, ao lado do
My Dying Bride. Uma apresentação mais que aprovada por todas as idades! Meu filho falava o tempo todo:
"o meu show preferido foi do Paraíso Perdido!"
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Paradise Lost levantou o público do VOA |
Para encerrar a noite e o festival, era a hora dos gigantes do
Trash alemão, os
Kreator, que se apresentavam pela segunda vez no
Vagos Open Air, assim como o
Paradise Lost - ambas bandas tinham participado da edição de 2014. O concerto do
Kreator dispensa comentários, para quem gosta do estilo é uma
porrada na orelha do início ao fim. Apesar de ser um som que até curto de ver
ao vivo, não fiquei até o final do show deles, mas do que assisti foi
impecável.
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Kreator fechou o VOA 2016 |
Eu tinha o credenciamento também para ir ao
Wacken Open Air, na
Alemanha, que ocorreu no mesmo final de semana. Entretanto, por incompatibilidade de horários, não consegui voar para lá e acho que no final das contas o saldo final do
Vagos Open Air 2016 foi, no meu ponto de vista, super
positivo. Apesar de ter voltado para apenas dois dias - nas duas últimas edições o festival contou com três dias de concertos - e da mudança de local, o
VOA faz jus à propaganda de um dos
melhores festivais de música pesada do país, afinal de contas, quantidade não é sinônimo de
qualidade, e esta última o
VOA tem de sobra!
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